quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CLARA DE ASSIS AMOU A IGREJA

(Pe. Dr. Jorge Guarda)

Por amor a Cristo, que a fascinou e a quem se entregou para O contemplar, amar e imitar na pobreza, Clara de Assis amou também a Igreja e contribuiu para a sua renovação espiritual. As palavras que escreveu a Inês de Praga valem, sem dúvida alguma, também para ela: “Considero-te colaboradora do próprio Deus e um suporte dos membros mais débeis do seu Corpo Místico” (Santa Clara de Assis: escritos, biografia, documentos, 99). Na Regra, estabeleceu que ela e as irmãs permanecessem “sempre submissas e sujeitas aos pés da santa Igreja” e “firmes na fé católica” (Santa Clara..., 70-71). E no seu Testamento recomendou à Santa Igreja e ao Sumo Pontífice que ajudassem todas as suas “irmãs presentes e futuras”, para que elas se conservarem sempre fielmente no ideal da pobreza evangélica que prometeram a Deus “e ao nosso beatíssimo Pai Francisco” (Santa Clara..., 80).

Clara foi também reconhecida pela Igreja, nomeadamente por Papas e Cardeais, que aprovaram a sua entrega a Cristo, a apreciaram e ajudaram a seguir a sua vocação e a ordenar a comunidade das irmãs que a seguiam. Assim, em 1253, foi visitada pelo Papa Inocêncio IV, que nessa época residia em Assis. Este Papa, “que reconheceu a vida de Clara como superior à de qualquer mulher do seu tempo, não hesitou em honrá-la na hora da sua morte com a sua visita”. Clara manifestou-lhe grande devoção e pediu-lhe que lhe concedesse o perdão dos seus pecados. O Papa respondeu: “Oxalá eu não precisasse mais de tal graça”, e concedeu-lhe a absolvição total e a bênção, o que deixou Clara exultante de alegria por ter podido ver o representante do Senhor sobre a terra (Santa Clara..., 165-166).

A opção radical de Clara para seguir Cristo na pobreza e na virgindade e o testemunho da sua vida extraordinária marcaram o seu tempo e suscitaram em muitos o desejo de a imitar. Assim se conta na sua “Legenda”: “A fama da santidade da virgem Clara espalhou-se rapidamente pelas regiões circunvizinhas, e de toda a parte acorreram mulheres seduzidas pela fragrância do seu perfume. (...) Todas pretendiam seguir a Cristo em fervorosa emulação. Todos desejavam partilhar desta vida evangélica que o exemplo de Clara inspirava” (Santa Clara..., 131-132). Esta mulher atraía assim muitas pessoas para Cristo e para a vida evangélica, não apenas as que entravam no mosteiro mas também outras que seguiam a Cristo nas próprias situações de vida.

“ A fonte de bênçãos celestes” que rebentou em Assis, isto é, o movimento espiritual suscitado por Francisco e Clara, transformou-se em torrente, refere a “Legenda”, e com os seus braços alegrou “a cidade de Deus” (cf Sl 45,5), ou seja, a Igreja. Clara tornou-se luz para o mundo e ganhou muitas almas para Cristo: “O cultivo da castidade cresce imenso no meio do mundo e, seguindo o caminho traçado por Clara, o estado virginal readquiriu novo interesse aos olhos de toda a gente. Tal abundância de flores cultivadas por Clara, transformou a Igreja numa autêntica primavera de renovação, realizando-se o que ela mesma para si implorou. ‘confortai-me com flores, fortalecei-me com frutos, porque desfaleço de amor’ (Ct 2,5)” (Santa Clara..., 133).

Tomás de Celano testemunha que entre Clara e as irmãs clarissas domina de uma tal maneira e acima de tudo a virtude da mútua e contínua caridade que “as une de tal modo nas suas vontades que, mesmo numa fraternidade de quarenta ou cinquenta pessoas, como são em alguns lugares, a identidade do querer e do não querer faz de todas elas uma só alma”. Comentado estas palavras, Chiara Lubich, que também se considerou herdeira espiritual da santa de Assis e da qual adoptou o nome, escreve: “Se assim é, compreende-se como aquele rasto de luz que Santa Clara deixou atrás de si tenha chegado até nós agora, apaixonando-nos e fomentando nos nossos corações o desejo de não deixar senão o mesmo rasto atrás de nós. Esse rasto de luz não era outra coisa que a presença de Cristo que vivia nela e entre as clarissas. As suas vidas, que tiveram o seu ponto de partida na pobreza, confluiram para aqui: no viverem o Corpo místico, no viverem a Igreja” (Cristo dispiegato nei secoli, 42-43).

O perfume da vida e da herança espiritual de Clara de Assis continua a expandir-se na Igreja. Brotam novos frutos quer pelo seu exemplo e inspiração quer pelas suas irmãs clarissas, que a imitam na entrega total a Cristo, na vida de pobreza, na fraternidade e na oração incessante pela Igreja e pelo homens. (Homilia do Dr. Jorge Guarda, no dia 11 de Agosto na Solenidade de Santa Clara, Mosteiro de Santa Clara, Monte Real)