quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CLARA DE ASSIS AMOU A IGREJA

(Pe. Dr. Jorge Guarda)

Por amor a Cristo, que a fascinou e a quem se entregou para O contemplar, amar e imitar na pobreza, Clara de Assis amou também a Igreja e contribuiu para a sua renovação espiritual. As palavras que escreveu a Inês de Praga valem, sem dúvida alguma, também para ela: “Considero-te colaboradora do próprio Deus e um suporte dos membros mais débeis do seu Corpo Místico” (Santa Clara de Assis: escritos, biografia, documentos, 99). Na Regra, estabeleceu que ela e as irmãs permanecessem “sempre submissas e sujeitas aos pés da santa Igreja” e “firmes na fé católica” (Santa Clara..., 70-71). E no seu Testamento recomendou à Santa Igreja e ao Sumo Pontífice que ajudassem todas as suas “irmãs presentes e futuras”, para que elas se conservarem sempre fielmente no ideal da pobreza evangélica que prometeram a Deus “e ao nosso beatíssimo Pai Francisco” (Santa Clara..., 80).

Clara foi também reconhecida pela Igreja, nomeadamente por Papas e Cardeais, que aprovaram a sua entrega a Cristo, a apreciaram e ajudaram a seguir a sua vocação e a ordenar a comunidade das irmãs que a seguiam. Assim, em 1253, foi visitada pelo Papa Inocêncio IV, que nessa época residia em Assis. Este Papa, “que reconheceu a vida de Clara como superior à de qualquer mulher do seu tempo, não hesitou em honrá-la na hora da sua morte com a sua visita”. Clara manifestou-lhe grande devoção e pediu-lhe que lhe concedesse o perdão dos seus pecados. O Papa respondeu: “Oxalá eu não precisasse mais de tal graça”, e concedeu-lhe a absolvição total e a bênção, o que deixou Clara exultante de alegria por ter podido ver o representante do Senhor sobre a terra (Santa Clara..., 165-166).

A opção radical de Clara para seguir Cristo na pobreza e na virgindade e o testemunho da sua vida extraordinária marcaram o seu tempo e suscitaram em muitos o desejo de a imitar. Assim se conta na sua “Legenda”: “A fama da santidade da virgem Clara espalhou-se rapidamente pelas regiões circunvizinhas, e de toda a parte acorreram mulheres seduzidas pela fragrância do seu perfume. (...) Todas pretendiam seguir a Cristo em fervorosa emulação. Todos desejavam partilhar desta vida evangélica que o exemplo de Clara inspirava” (Santa Clara..., 131-132). Esta mulher atraía assim muitas pessoas para Cristo e para a vida evangélica, não apenas as que entravam no mosteiro mas também outras que seguiam a Cristo nas próprias situações de vida.

“ A fonte de bênçãos celestes” que rebentou em Assis, isto é, o movimento espiritual suscitado por Francisco e Clara, transformou-se em torrente, refere a “Legenda”, e com os seus braços alegrou “a cidade de Deus” (cf Sl 45,5), ou seja, a Igreja. Clara tornou-se luz para o mundo e ganhou muitas almas para Cristo: “O cultivo da castidade cresce imenso no meio do mundo e, seguindo o caminho traçado por Clara, o estado virginal readquiriu novo interesse aos olhos de toda a gente. Tal abundância de flores cultivadas por Clara, transformou a Igreja numa autêntica primavera de renovação, realizando-se o que ela mesma para si implorou. ‘confortai-me com flores, fortalecei-me com frutos, porque desfaleço de amor’ (Ct 2,5)” (Santa Clara..., 133).

Tomás de Celano testemunha que entre Clara e as irmãs clarissas domina de uma tal maneira e acima de tudo a virtude da mútua e contínua caridade que “as une de tal modo nas suas vontades que, mesmo numa fraternidade de quarenta ou cinquenta pessoas, como são em alguns lugares, a identidade do querer e do não querer faz de todas elas uma só alma”. Comentado estas palavras, Chiara Lubich, que também se considerou herdeira espiritual da santa de Assis e da qual adoptou o nome, escreve: “Se assim é, compreende-se como aquele rasto de luz que Santa Clara deixou atrás de si tenha chegado até nós agora, apaixonando-nos e fomentando nos nossos corações o desejo de não deixar senão o mesmo rasto atrás de nós. Esse rasto de luz não era outra coisa que a presença de Cristo que vivia nela e entre as clarissas. As suas vidas, que tiveram o seu ponto de partida na pobreza, confluiram para aqui: no viverem o Corpo místico, no viverem a Igreja” (Cristo dispiegato nei secoli, 42-43).

O perfume da vida e da herança espiritual de Clara de Assis continua a expandir-se na Igreja. Brotam novos frutos quer pelo seu exemplo e inspiração quer pelas suas irmãs clarissas, que a imitam na entrega total a Cristo, na vida de pobreza, na fraternidade e na oração incessante pela Igreja e pelo homens. (Homilia do Dr. Jorge Guarda, no dia 11 de Agosto na Solenidade de Santa Clara, Mosteiro de Santa Clara, Monte Real)



sexta-feira, 12 de março de 2010

Vocação Contemplativa na Igreja



A Vocação Contemplativa é um mistério humano e divino, um mistério desconcertante, impenetrável à razão pura do homem, e belo, cheio dessa beleza indescritível do Sobrenatural, que preenche, deslumbra e perde o olhar da alma que o vive... por dentro!
Não é fácil falar da Vida Contemplativa, como não é fácil falar, adequadamente e sem falhas, de Deus e da Igreja , principalmente dessa Igreja escondida, a Igreja que se cala, que se apaga, que se aniquila, que perscruta os segredos de Deus e que gozosa e apaixonadamente se submerge no próprio escondimento do Criador. Dela emerge uma sabedoria única, uma louca sabedoria que confunde e não raro escandaliza quem a observa de fora.

“...Uma só coisa é necessária, dizia Jesus a Sta. Marta. Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada” (Lc. 10, 42-43).
Escutar Jesus com todas as potências e faculdades da alma, seguir o Mestre que passa a cada instante e que segreda “renuncia-te a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-Me”, e escalar com ousadia, criatividade, coragem e santa teimosia a elevada montanha do Evangelho, permanecendo aos pés do divino Senhor, na intimidade dilacerante d’Aquele que é Amor, que dá amor e que só pede amor... é este o universo imenso da Vida Contemplativa.

Sim, a Vida Contemplativa é um insondável Mistério de Amor! O amor não se explica, não se descreve, não se reduz a palavras. Por natureza, o amor é desprovido de razões, ele próprio é a razão de si mesmo, o seu princípio e o seu fim. “Amo porque amo e amo para amar”, dizia S. Bernardo e diz toda a alma contemplativa. Quem poderá entendê-lo?
Mistério do amor de Deus..., mistério desconcertante que quanto mais se descobre, maior e mais infinita se lhe reconhece a imensidão do Desconhecido... O Amor contempla-se e perde na contemplação aquele que O contempla.

“Fixa o teu olhar no espelho da eternidade, deixa a tua alma banhar-se no esplendor da glória e une o teu coração Áquele que é encarnação da essência divina, para que, contemplando-O, te transformes inteiramente na imagem da Sua Divindade”, escrevia Santa Clara a Santa Inês de Praga.
Há aqui um império de silêncio que é todo o dinamismo incessante da vida contemplativa e que é também a alma e o coração do Corpo universal da Igreja de Cristo.
Só o amor é, só ele age, só ele cria e recria todas as coisas, só ele é a vida da Igreja continuamente a fluir, do “interior” para o “exterior” e do “exterior” para o “interior”, por todos os seus membros.

O amor é a contemplação e a acção da Igreja, primeiro é contemplação e só depois poderá ser acção: apostolado dos sacerdotes, acção dos missionários, missão variadíssima dos fiéis leigos, força que gera virgens, mártires, confessores... Tal é a energia invisível e invencível que brota cristalina, punjante de força, da fonte escondida... da Vida Contemplativa. Por isso, escrevia Santa Clara numa das suas cartas: “Considero-te colaboradora do próprio Deus e um suporte dos membros mais débeis do Seu Corpo”.
Profecia de Deus no meio do mundo dos homens, a vida contemplativa é sinal da presença misteriosa de Deus. Ela é o segredo oculto da Igreja, a sua “arma secreta”, uma espécie de mística chama permanentemente a arder e a exalar perfume de incenso sobre o Altar Divino.

Dentro da Igreja, a vida contemplativa é o universo do amor que dá a vida, que comunica vida a todo o momento e que renova a própria vida. Ela possui uma linguagem própria, uma Linguagem diferente de todas as linguagens e idiomas do mundo: o Amor de Deus! Ela tem um único Alimento, uma Força apenas e uma Energia singular: o Amor de Deus! Ela não tem nada e possui tudo, um Tudo infinitamente grande e imensamente rico: o Amor de Deus!...
A Vida Contemplativa é o coração da Santa Igreja. Só é possível falar do coração falando de coração, ou correríamos o risco de deturpar a sua própria essência.

O coração é um músculo vigoroso, um músculo que trabalha e que reza, que se esconde no interior e que se cala, que bate silenciosamente, que leva a vida a todo o lado, que renova e purifica a seiva vital e que... desaparece misterioso “entre muros”! Isto é a vida contemplatina na Igreja.

O coração da Igreja é pequenino, de uma pequenez desconcertante, e ao mesmo tempo ele é imensamente grande, possui uma grandeza absolutamente admirável. Encerrado no reduzido espaço da Clausura, diríamos sorrindo “um Sacrário”, o coração da Igreja (a Vida Contemplativa) abarca o mundo inteiro, abraça a humanidade de todos os tempos (passado, presente e futuro) e enche e preenche todo o universo. E se fosse apenas isto seria ainda pequeno, de uma ínfima pequenez. Se o coração da Igreja desce aos abismos mais obscuros e esquecidos da humanidade, chegando aos confins da terra, com uma energia radiante e poderosa ela sobe às alturas, rasga o “impossível” e... vive com Deus, para O louvar, adorar, desagravar e amar, com amor profundo, intenso e apaixonado...

Culto a Deus e santificação da humanidade, é este todo o dinamismo da Igreja, Igreja contemplativa e activa, que se desenvolve, cresce e ramifica, numa imensa e incessante Liturgia Sagrada...
Dizia Jesus a Santa Teresa de Ávila: “Que seria do mundo, se não fossem as comunidades contemplativas?”

A Vida Contemplativa é a vida eternamente jovem do espírito. Quem a abraça, abraça a altíssima Pobreza e torna-se a pessoa mais rica do mundo; quem a escolhe, escolhe a santíssima Castidade, e descobre uma maternidade nova, fecundíssima, universal; quem a elege, elege a ousadia soberana da Obediência, torna-se imitador d’Aquele que foi “obediente até à morte”, servo humilde e amante de Deus, servo tão poderoso que atrai a complacência, o favor e a amizade do Omnipotente; quem nela penetra, penetra no misterioso mundo do Claustro, rompe com todas as rotinas e desejos mundanos para embrenhar-se na mais vertiginosa aventura do desconhecido: aventura toda divina!

A Vida Contemplativa é um mistério de fé. Porque se acredita ama-se, e porque se ama, vive-se: vive-se Deus! A radicalidade do Evangelho vivido com amor, com verdade e com penetração interior é o alto desafio, desafio sempre novo, desconcertantemente novo, que se desenrola, ardente, forte e sublime, na arena escaldante e sossegada do Claustro. Aqui a alma religiosa luta permanentemente, em “combate” aceso e singular, luta consigo mesmo e luta com o próprio Deus, numa batalha imensa, com princípio mas sem fim... luta de amor..., para que Deus seja Tudo em todos...

A fé vê aquilo que os olhos não vêem, toca aquilo que as mãos não alcançam, saboreiam aquilo que os lábios não tocam, escuta aquilo que os ouvidos não ouvem e aspira o perfume que o olfacto não descobre. O Claustro é todo ele habitado por uma Presença viva, Presença forte e radiante que escapa ao universo dos sentidos: Deus. É Ele o centro da Igreja, Claustro infinitamente misterioso, belo e imenso, mergulhado no eterno silêncio da contemplação, da adoração e do amor da Santíssima Trindade.

A vida Contemplativa é simplesmente isto: Deus em nós e nós em Deus. Toda a luta que aqui se desenvolve, luta que empenha o ser, a alma, o corpo, a vida e a morte, é cumplicidade do amor. E o amor... é feliz!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Quem são as Irmãs Clarissas?

O Universo Divino da Irmã Clarissa

É impossível olhar para a vocação de Irmã Clarissa sem sorrir, com um sorriso profundo, imensamente feliz e repleto de gratidão para com Deus.
Ser Clarissa!

Que sonho, que ventura, que projecto de vida tão maravilhoso...

Ser Clarissa é caminho sempre novo, num universo divino, deslumbrante, por desbravar...; é desafio sereno e ao mesmo tempo ardente de amor, sedento de Deus, sequioso dos mais altos cumes... e louco, cheio dessa loucura divina que faz tão pequenino o claustro do mundo e tão grande o mundo do claustro.
Ser Clarissa não é um estado estanque, uma rotina! É, sim, uma imensa aventura vivida e por viver, uma aventura num envolvimento com o divino que se vive hoje, agora... e que enche o tempo de uma novidade constante, de uma plenitude bela e radiosa.

A Clarissa não tem idade!
Com Clara de Assis, e por Maria, a Mãe do Senhor, também ela, com olhar de mãe, abraça a humanidade de todos os tempos, de todos os séculos e de todos os lugares...e do seu escondimento silencioso, procura tocar o mistério de todas as vidas, de todos os corações e de todas as almas...; e na oração que intercede, suplica e dá a vida, tudo marca com o selo do amor fraterno e o oferece ao Pai misericordioso.

A História da Humanidade, cheia de guerras fratricidas, ódios, sofrimentos e dos crimes mais horrendos... mas, por outro lado, com as suas belezas, histórias memoráveis de heroísmo e altruísmo... tudo passa pelas mãos unidas e orantes de uma Clarissa, permanentemente em adoração ao Santíssimo Sacramento. Ninguém é esquecido, ninguém é desprezado, ninguém fica de fora ou por lembrar neste perene, silencioso e discreto viver para Deus.

A Clarissa está em Deus e está no mundo!
Com o olhar da alma imerso no Coração trespassado de Cristo, o silêncio das palavras que não se pronunciam é a voz que canta louvor à Santíssima Trindade e é clamor que se eleva sem cessar suplicando misericórdia. Ela vive unicamente para Deus e vive também para todos os irmãos; é serva de Deus e é também serva dos seus irmãos... Com o coração escuta as “confidências” de Deus e com o mesmo coração escuta, acolhe e guarda as confidências dos irmãos.

O universo da Clarissa é Deus!!!
O Amor infinito e insondável de Deus, não se compreende mas admira-se, não se explica mas aceita-se, não se analisa mas contempla-se com a alma infinitamente pequena, com fé deslumbrada pela Beleza divina e pela doçura indizível. Não é possível compreender o Incompreensível. A Clarissa limita-se a fitá-Lo, com os olhos cheios de amor e de ventura. O Incompreensível escolheu-a e ela escolheu o Incompreensível: é Ele, o mesmo Deus, que faz da sua existência um mistério incompreensível!...

A vida da Clarissa é... “imensa”!
Deus não tem limites, por isso a vida da Clarissa também não tem limites. O Evangelho é a senda aberta que se estende, a perder de vista, diante dos seus pés num desafio de todos os dias a levar as almas à salvação. Sim, o seu coração, a sua alma e a sua vida, erguendo-se da ínfima pequenez, abraçam todos os universos - o universo da criação, o universo dos homens e o universo de Deus – no abraço da oração, da penitência e do amor, à imagem da divina Mãe do Redentor.
Ser Clarissa é ser SIM a Deus!

O sim da Clarissa está impregnado de poesia, poesia que se sente sem se tocar, que se saboreia sem se sentir e que encanta sem se ver. Poesia que é harmonia, construída e por construir, um projecto inefavelmente doce e desconcertantemente novo, uma batalha urgente que aponta uma Meta - Cristo - e que apresenta como arma o radicalismo evangélico mais fiel, mais ousado e mais... apaixonado.

Deus é o único Absoluto da vida de uma Clarissa, da sua alma e do seu coração... Sim, humanamente falando, a Clarissa não tem nada, não possui nada; mas divinamente falando, ela tem Tudo... Os votos que profere, mais do que quatro colunas de um templo são aliança de amor incondicional sem “ses” e sem “mas”, que transforma o tempo em eternidade e a vida em plenitude divina.

Pelo voto de Pobreza, Deus torna-se a sua única Riqueza, o Tesouro mais caro e a Pérola de beleza inigualável...; pelo voto de Castidade, Deus é o Esposo escolhido da alma, o Divino Jardineiro de um místico jardim, o Rochedo único de uma vida que se eleva da terra ao céu...; pelo voto de Obediência, Deus é todo o querer da alma, o seu único desejo, a sua luta, o seu trabalho, o seu descanso, a sua alegria...; pelo voto de Clausura, Deus é a morada única, a mais maravilhosa sarça ardente, o cume infinitamente misterioso, profundamente místico e verdadeiramente apaixonante.
Universo insondável de ventura!...

Ser Clarissa é ser mulher, é ser jovem portadora de Esperança, é ser farol, luz radiosa transmissora de alegria. Alma adoradora, ela vive permanentemente um deslumbramento que não se descreve, mas que abisma o ser numa indizível, profunda e permanente Acção de Graças.

A vocação da Clarissa é o maior de todos os benefícios que ela recebe e que diariamente continua a receber do Benfeitor, do Pai das misericórdias, pelos quais deve render infinitas graças; e quanto mais perfeita e sublime ela é, tanto mais dele se torna devedor, escreveu Santa Clara de Assis no seu Testamento.
Não é possível ler estas palavras sem sentir um frémito de emoção feliz. A alma apaixonada desta mulher - Santa Clara de Assis - um espírito loucamente enamorado de Deus, possui a força, a energia e o dinamismo sobre-humano da profecia.

Oito séculos passaram sobre Clara e a sua mensagem permanece ainda mais fresca que o seu corpo incorrupto. O percurso extraordinário e simples desta mulher escreve com letras de fogo uma das mais admiráveis epopeias de amor de todos os tempos. Epopeia da Igreja que é também desafio para o cristão de hoje.

Sim, o universo tão límpido e brilhante de Clara é o universo da Clarissa, jardim de Deus, só de Deus, repleto de amor, gratidão e adoração.

Um dia em Vossos átrios, Senhor, vale por mais de mil!..., diz o salmista e acrescenta: Para mim, a felicidade é estar junto de Deus.

Este é o testemunho real da vida da Clarissa, é o grito mais solene e mais ardente da sua alma. Esta é a desconcertante linguagem do Claustro de Clara, oferta de Deus ao mundo, escondido e patente entre ascéticos muros...; onde se agradece o dom inefável do Sacerdote e se acompanha, no seu ministério através do silêncio e presença orante, diante de Jesus Sacramentado, este é...
...o universo divino e deslumbrante da Irmã Clarissa!

Ser Clarissa

O Universo Divino da Irmã Clarissa

É impossível olhar para a vocação de Irmã Clarissa sem sorrir, com um sorriso profundo, imensamente feliz e repleto de gratidão para com Deus.
Ser Clarissa!

Que sonho, que ventura, que projecto de vida tão maravilhoso...
Ser Clarissa é caminho sempre novo, num universo divino, deslumbrante, por desbravar...; é desafio sereno e ao mesmo tempo ardente de amor, sedento de Deus, sequioso dos mais altos cumes... e louco, cheio dessa loucura divina que faz tão pequenino o claustro do mundo e tão grande o mundo do claustro.

Ser Clarissa não é um estado estanque, uma rotina! É, sim, uma imensa aventura vivida e por viver, uma aventura num envolvimento com o divino que se vive hoje, agora... e que enche o tempo de uma novidade constante, de uma plenitude bela e radiosa.

A Clarissa não tem idade!
Com Clara de Assis, e por Maria, a Mãe do Senhor, também ela, com olhar de mãe, abraça a humanidade de todos os tempos, de todos os séculos e de todos os lugares...e do seu escondimento silencioso, procura tocar o mistério de todas as vidas, de todos os corações e de todas as almas...; e na oração que intercede, suplica e dá a vida, tudo marca com o selo do amor fraterno e o oferece ao Pai misericordioso.

A História da Humanidade, cheia de guerras fratricidas, ódios, sofrimentos e dos crimes mais horrendos... mas, por outro lado, com as suas belezas, histórias memoráveis de heroísmo e altruísmo... tudo passa pelas mãos unidas e orantes de uma Clarissa, permanentemente em adoração ao Santíssimo Sacramento. Ninguém é esquecido, ninguém é desprezado, ninguém fica de fora ou por lembrar neste perene, silencioso e discreto viver para Deus.A Clarissa está em Deus e está no mundo!

Com o olhar da alma imerso no Coração trespassado de Cristo, o silêncio das palavras que não se pronunciam é a voz que canta louvor à Santíssima Trindade e é clamor que se eleva sem cessar suplicando misericórdia. Ela vive unicamente para Deus e vive também para todos os irmãos; é serva de Deus e é também serva dos seus irmãos... Com o coração escuta as “confidências” de Deus e com o mesmo coração escuta, acolhe e guarda as confidências dos irmãos.

O universo da Clarissa é Deus!!!
O Amor infinito e insondável de Deus, não se compreende mas admira-se, não se explica mas aceita-se, não se analisa mas contempla-se com a alma infinitamente pequena, com fé deslumbrada pela Beleza divina e pela doçura indizível. Não é possível compreender o Incompreensível. A Clarissa limita-se a fitá-Lo, com os olhos cheios de amor e de ventura. O Incompreensível escolheu-a e ela escolheu o Incompreensível: é Ele, o mesmo Deus, que faz da sua existência um mistério incompreensível!...

A vida da Clarissa é... “imensa”!
Deus não tem limites, por isso a vida da Clarissa também não tem limites. O Evangelho é a senda aberta que se estende, a perder de vista, diante dos seus pés num desafio de todos os dias a levar as almas à salvação. Sim, o seu coração, a sua alma e a sua vida, erguendo-se da ínfima pequenez, abraçam todos os universos - o universo da criação, o universo dos homens e o universo de Deus – no abraço da oração, da penitência e do amor, à imagem da divina Mãe do Redentor.
Ser Clarissa é ser SIM a Deus!

O sim da Clarissa está impregnado de poesia, poesia que se sente sem se tocar, que se saboreia sem se sentir e que encanta sem se ver. Poesia que é harmonia, construída e por construir, um projecto inefavelmente doce e desconcertantemente novo, uma batalha urgente que aponta uma Meta - Cristo - e que apresenta como arma o radicalismo evangélico mais fiel, mais ousado e mais... apaixonado.

Deus é o único Absoluto da vida de uma Clarissa, da sua alma e do seu coração... Sim, humanamente falando, a Clarissa não tem nada, não possui nada; mas divinamente falando, ela tem Tudo... Os votos que profere, mais do que quatro colunas de um templo são aliança de amor incondicional sem “ses” e sem “mas”, que transforma o tempo em eternidade e a vida em plenitude divina.

Pelo voto de Pobreza, Deus torna-se a sua única Riqueza, o Tesouro mais caro e a Pérola de beleza inigualável...; pelo voto de Castidade, Deus é o Esposo escolhido da alma, o Divino Jardineiro de um místico jardim, o Rochedo único de uma vida que se eleva da terra ao céu...; pelo voto de Obediência, Deus é todo o querer da alma, o seu único desejo, a sua luta, o seu trabalho, o seu descanso, a sua alegria...; pelo voto de Clausura, Deus é a morada única, a mais maravilhosa sarça ardente, o cume infinitamente misterioso, profundamente místico e verdadeiramente apaixonante.

Universo insondável de ventura!...
Ser Clarissa é ser mulher, é ser jovem portadora de Esperança, é ser farol, luz radiosa transmissora de alegria. Alma adoradora, ela vive permanentemente um deslumbramento que não se descreve, mas que abisma o ser numa indizível, profunda e permanente Acção de Graças.
A vocação da Clarissa é o maior de todos os benefícios que ela recebe e que diariamente continua a receber do Benfeitor, do Pai das misericórdias, pelos quais deve render infinitas graças; e quanto mais perfeita e sublime ela é, tanto mais dele se torna devedor, escreveu Santa Clara de Assis no seu Testamento.
Não é possível ler estas palavras sem sentir um frémito de emoção feliz. A alma apaixonada desta mulher - Santa Clara de Assis - um espírito loucamente enamorado de Deus, possui a força, a energia e o dinamismo sobre-humano da profecia.
Oito séculos passaram sobre Clara e a sua mensagem permanece ainda mais fresca que o seu corpo incorrupto. O percurso extraordinário e simples desta mulher escreve com letras de fogo uma das mais admiráveis epopeias de amor de todos os tempos. Epopeia da Igreja que é também desafio para o cristão de hoje.
Sim, o universo tão límpido e brilhante de Clara é o universo da Clarissa, jardim de Deus, só de Deus, repleto de amor, gratidão e adoração.
Um dia em Vossos átrios, Senhor, vale por mais de mil!..., diz o salmista e acrescenta: Para mim, a felicidade é estar junto de Deus.
Este é o testemunho real da vida da Clarissa, é o grito mais solene e mais ardente da sua alma. Esta é a desconcertante linguagem do Claustro de Clara, oferta de Deus ao mundo, escondido e patente entre ascéticos muros...; onde se agradece o dom inefável do Sacerdote e se acompanha, no seu ministério através do silêncio e presença orante, diante de Jesus Sacramentado, este é...
...o universo divino e deslumbrante da Irmã Clarissa!