sábado, 17 de dezembro de 2011

AMAR APAIXONADAMENTE


Amar apaixonadamente…

Era uma vez uma menina, de nome Joaquina, que foi alma de eleição. É a história da vida da Madre Teresa do Menino Jesus editada pelo Mosteiro de Santa Clara e do Santíssimo Sacramento, em Monte Real, do qual foi fundadora e contada pela Irmã Maria do Rosário Franquinho Gaspar.
Este livro é a biografia duma heroína na virtude e na santidade, é a epopeia duma vida abrasada pela força audaciosa do Amor, a cuja aventura se rendeu incondicionalmente.
Por Ele, Madre Teresa tudo largou e revestida duma sabedoria que vem do alto, orou e trabalhou sem cessar, voando ao sabor da sua alma enérgica e apaixonada.
Atravessando uma época fortemente negativista, eivada por um materialismo agnóstico e desértico, onde o vazio de ideais superiores já se fazia sentir, teve o privilégio de os ignorar.
O seu espírito contemplativo estava para além das encruzilhadas políticas e filosóficas que cerceavam o homem, tendo tido o acesso à verdade mais alta da existência humana: Deus.
Levar Deus a todos os homens e conduzir todos os homens a Deus, foi o cerne da sua vida. Dar a conhecer o seu Amado é a intemporalidade que com a audácia própria dos santos não parou de proclamar.

Mensageira de paz e de amor, abraçou alegremente a vida em toda a sua riqueza de que é portadora. Nas horas mais difíceis nunca vacilou e do seu regaço sempre saíram rosas e sorrisos, pois a magnanimidade do seu coração superava-a e projectava-a em voos poéticos e místicos, aos quais só as almas nobres e santas podem ascender.

A vida de Madre Teresa do Menino Jesus é desfiada num rosário de pétalas de rosa, onde o odor de santidade nos convida a rezar, onde a beleza e a alegria nos contagiam e seduzem.

Um tesouro que urge desbravar, conhecer, seguir e amar.
Uma prosa escrita com o coração, esse lugar sagrado onde o céu e a terra se podem encontrar.
Uma vida feita poema, a história dum amor sem barreiras, uma alvorada divina em forma de mensagem de esperança, paz e muito amor.

As épocas de crise são também épocas de santos, os opostos atraem-se e, em tempos de confusão e aridez espiritual, urge procurar a mezinha, pelo que fica a sugestão da leitura desta obra, na certeza de que – Uma só coisa importa: Amar!

(Maria Susana Mexia in: "Jornal das Caldas online")

domingo, 7 de agosto de 2011


PENITENCIÁRIA APOSTÓLICA

– Indulgência Plenária – Ano Clariano.

DECRETO


O Sumo Pontífice Bento XVI, felizmente reinante, foi recentemente informado pelo reverendíssimo Pe. José Rodriguez Carballo, Ministro Geral de toda a Ordem dos Frades Menores, acerca das celebrações solenes, que a partir do dia 16 do presente mês de Abril, até ao dia 12 de Agosto de 2012, terão lugar em todas as igrejas conventuais da Ordem de Santa Clara, para que seja dignamente comemorado o oitavo centenário, desde que a nobre virgem Clara nascida em Assis (Úmbria), imitando o seu concidadão São Francisco, distribuiu todos os seus bens em esmolas e ajuda aos pobres e, escapando ao ruído do mundo, cortados os cabelos pelo mesmo Francisco, fundou a comunidade das Damas Pobres da Ordem dos Menores.

Portanto, o Santo Padre, por seu benigno cuidado para com a Igreja Universal, e pelo afecto especial às Monjas de Santa Clara, desejoso de fazer algo agradável aos fiéis devotos de um dom Deus, concede Indulgência Plenária, nas condições habituais regularmente observadas (a Confissão sacramental, a Comunhão Eucarística e oração pelo Sumo Pontífice), ganhando-se uma vez ao dia durante o ano jubilar, podendo aplicar-se, sob forma de sufrágio, também pelas Almas dos fiéis que se encontram no Purgatório, se participarem devotamente em qualquer celebração jubilar ou piedoso exercício, ou também se dedicarem pelo menos um certo espaço de tempo a meditações piedosas concluindo-as com a recitação do Pai Nosso, do Credo em qualquer forma legítima, invocação da Virgem Maria, de São Francisco e de Santa Clara de Assis:

a) Para as próprias monjas, todas as vezes que visitarem a igreja ou o oratório principal do Mosteiro.

b) Para todos os fiéis: uma vez em cada oratório, em dias escolhidos livremente e também todas as vezes que participarem em devotas peregrinações de grupo, que tenham por alvo, os mencionados lugares sagrados;

c) Se estiverem devotamente presentes aos ritos jubilares: na festa de Santa Clara (11 de Agosto de 2011 e de 2012), na festa do Seráfico Pai São Francisco (04 de Outubro de 2011), nos tríduos imediatamente precedentes, e nos outros dias estabelecidos regularmente.

Além disso, os fiéis poderão lucrar a Indulgência Plenária à maneira de Jubileu, nas mesmas condições, em todas as celebrações solenes que se realizem em Assis, durante todo o ano jubilar de Santa Clara.

Os anciãos, doentes e todos aqueles que por motivos graves não podem sair de casa, poderão lucrar igualmente a Indulgência Plenária, sinceramente arrependidos dos seus pecados e com a intenção de cumprir, tanto quanto possam, as três condições mencionadas, se se unirem espiritualmente às celebrações jubilares, oferecendo as suas orações e as suas dores a Deus misericordioso, por meio de Maria.

Portanto, a fim de que, graças à caridade pastoral, seja facilitado o acesso ao perdão divino, através do ministério da Igreja, esta Penitenciária roga encarecidamente aos Sacerdotes providos das oportunas faculdades, para poderem confessar, que se ofereçam para celebrarem o Sacramento da Penitência, com ânimo diligente e generoso.

Não obstante qualquer coisa em contrário.

Dado em Roma, no Palácio da Penitenciária Apostólica, a 16 do mês de Abril do ano da Divina Incarnação de 2011.

Fortunato S.R.E, Card.Baldelli

Penitenciário Maior

+ Giovanni Francesco Girotti, OFM Conv.

Bispo Tir.


CARTA POR OCASIÃO DO OITAVO CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO
DA ORDEM DAS IRMÃS POBRES DE SANTA CLARA


CONFERÊNCIA DOS MINISTROS GERAIS
DA 1ª ORDEM E DA TOR


O Senhor conceda a paz a todas vós, Irmãs Pobres de Santa Clara.
É ainda forte o eco da celebração da fundação da 1ª Ordem Franciscana e agora estamos todos voltados para o ano 2012, para dar graças ao Senhor pelos 800 anos da consagração de Clara na Porciúncula. O acontecimento não é uma comemoração de um passado glorioso, mas um evento em que se faz memória, com o intuito de “obter também da história ulterior um impulso para renovar avontade de servir à Igreja.”Chamadas pelo Espírito a seguir o Cristo pobre, crucificado e ressuscitado, vivendo o santo Evangelho em obediência, sem nada de próprio e em castidade, vós sois guardiãs do carisma clariano, mulheres consagradas que interagem com o mundo, contemplando os sinais que o Espírito semeia e difunde na historia. Na escuta de Deus, vós falais ainda hoje ao coração dos homens e das mulheres do nosso tempo com a linguagem do amor, cujas palavras se fundam na raiz da existência habitada por Deus.

MANTENHAM FIRME O PONTO DE PARTIDA
Fazer memória da própria vocação é uma ocasião de rever as motivações do sim pessoal a Deus.Relendo a sua história vocacional, retornais ao encontro com o Senhor que aconteceu através da Palavra, de uma pessoa, de um acontecimento, de uma experiência. Após as dificuldades iniciais,vós decidis seguir Jesus Cristo, deixando-se determinar por Ele e por seu Evangelho. A experiência de Francisco e de Clara as atraiu e, hoje, o sim deles a Cristo se prolonga no tempo através de vós.Conscientes de que várias vicissitudes favoreceram ou condicionaram a pureza da vossa “Forma de vida”, e que diversas sedimentações seculares transformaram por vezes a intuição original, estamosconvencidos de que o aniversário de fundação da vossa Ordem não pode limitar-se a uma simples recordação.

O que queremos celebrar juntos: a recordação de uma regra ou a memória da história de Deus que caminha convosco, perpetuada no tempo e que ainda hoje suscita em vós a paixão para “observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade2”? Como trazer novamente à luz, na sua totalidade, a Forma de vida que torna visível e credível a todos que “para nós o Filho de Deus se fez caminho que nos mostrou e ensinou com a palavra e com o exemplo o nosso beatíssimo padre Francisco, o seu verdadeiro e apaixonado 1 Bento XVI na 23ª Assembléia Geral da Fiuc, 19 de novembro de 2009. 2 RSC I, 2. imitador3”. Como vós podeis ainda hoje ser, na igreja e para toda a família franciscana, memória viva daquilo que todos nós, como batizados, somos chamados a viver? Sabemos que vós dedicais as melhores energias afim de serem fiéis àquilo que escolheram e prometeram e, justamente por isso, percebemos a urgência de reler junto convosco, neste momento histórico, as coordenadas da vossa vida de Irmãs Pobres colocadas por Deus na Igreja, na Família Franciscana e no mundo.

PARA VIVER O EVANGELHO...
Em uma sociedade bombardeada por imagens, onde o indivíduo é impulsionado a buscar uma
contínua representação de si, vós sois chamadas pelo Espírito a serem um simples sinal da presença de Deus. Sabemos que não é sempre fácil, sobretudo quando isso exige uma continua conversão evangélica da mente, do coração, do comportamento, das estruturas de personalidade, para serem significativas e para não caírem na fácil competição mundana, sem negociar o essencial da vossa vida.
Enquanto a mensagem comunicada pelo testemunho de vocês é expressa através das estruturas, dos sinais e símbolos, a Regra escrita por Clara pede hoje às suas filhas uma vida evangélica vivida na pobreza sine glossa. Sabemos que nas fraternidades o Espírito de Deus impulsiona a buscar, a discernir evangelicamente, para manter alerta a atenção e avaliar as estruturas que não permitem o reflexo imediato da presença de Deus. Vós sois, pois, chamadas a reler os sinais e símbolos a fim de que sejam compreensíveis, neste tempo em que tudo é questionável. Também o sagrado, que não remete para a alteridade de Deus, corre o risco de cair na lógica do consumo.

Aos consagrados e consagradas se pede de manifestar o absoluto de Deus. Vós, de um modo particular, sois chamadas a viver uma vida fundada sobre os sinais e os símbolos que não remetem ao vazio de um estéril doutrinamento, ritualismo ou ativismo, mas que saibam conjugar hoje as raízes do passado e a profecia do futuro: estruturas, sinais e símbolos que simplesmente fazem ver Deus.
Como podeis ser testemunhas da sua presença através da Forma de vida que um dia o Espírito confiou a Clara e que continua a confiar a vocês neste tempo em que parecem faltar os parâmetros mais elementares da existência?

Enquanto o mundo gira vertiginosamente, vós, na estabilidade, manifestais Deus sempre à escuta dos homens e das mulheres do nosso tempo, para amá-los.
Alimentando-se da Palavra de Deus, vós a encarnais no cotidiano através da obediência na fé4. A fé em Cristo não é um acontecimento adquirido uma vez por todas, mas é um dom do Espírito. Essa fé pede uma educação permanente, e por esta razão é celebrada, professada e vivida. Através do cuidado na liturgia, vós testemunhais que Deus, o Pai que se faz próximo de toda criatura, chama ahumanidade a estar na história, na sua presença. Vós vos tornais, no cotidiano, presença visível da busca do rosto de Deus, como os peregrinos no mundo e os mendigos de sentido.Se a liturgia dá forma a nossa fé, esta, por sua vez, para ser credível deve encontrar respaldo no cotidiano da vida em nível pessoal e fraterno. Não é suficiente, de fato, pensar que basta crer, é necessário que o Mistério celebrado assuma em cada um e cada uma o rosto de Cristo. Ainda hoje está presente a idéia da separação entre fé e vida.

Vós nos ajudais a rever as nossas celebrações: o cuidado com a Liturgia das Horas e com a Eucaristia, enquanto constantemente orientado ao louvor de Deus, deve permitir a quem participa experimentar, através da simplicidade clariana, a graça da presença do Senhor ressuscitado. Deixando-se transformar pelo Espírito e moldar pelo Evangelho, sois mulheres consagradas que se entregam a Deus. Através do exemplo de Francisco e Clara, vós, Irmãs Pobres, conservais, como a Virgem, Aquele que contém cada uma e todas as coisas5. Testemunhais no silêncio a “contemplação do Cristo do Evangelho, amando-o intensamente, imitando as suas virtudes”.

Vós nos narrais, assim, com a vossa vida aquilo que escutais; aquilo que vedes com vossos olhos, Aquele que contemplais e o que vossas mãos tocam do Verbo da Vida7. Continuais a anunciar com a vossa existência, vivendo a dimensão mística, que Deus existe, que Deus é amor. Neste mundo que parece indiferente a Deus, sois chamadas a serem referência da presença do Mistério que tem o rosto do Pai. Somente buscando com paixão o Cristo e seu Reino é que podemos nos aproximar dos homens e das mulheres do nosso tempo com esperança no coração, conscientesde fazer parte da mesma caminhada. Vós nos fazeis ver a beleza de sentir-nos sempre como pessoas a caminho, que a cada dia comprometem a vida com Deus na história.A experiência contemplativa de Clara nos interroga. Assim como ela convida Inês a colocar-se por inteira na imagem de Jesus Cristo (cf.3In 12-13), ainda hoje pede a vós a deixar-se transformar pela contemplação, a doar a vossa existência, na busca incessante de Deus, a fim de libertar-se de tudo o que ocupa o lugar de Deus e de amar até o fim.

Se o hoje de Deus pede aos cristãos de serem adultos na fé, com maior razão a vós, mulheres consagradas, é exigida uma fé adulta, que saiba contar a experiência inédita do encontro com o Senhor, para responder com esperança, em qualquer lugar em que estiverem, às inquietações mais profundas dos homens e das mulheres do nosso tempo. Somente quem continuamente caminha sob o olhar de Deus pode colocar-se na escuta dos que buscam um sentido para a vida. Obrigado pela vossa busca incansável de Deus: a liberdade vivida nele é um convite a mergulhar todos os dias no Mistério, a crer que Deus existe, porque o encontraram.

COMO POBRES…Nestes tempos em que alguns poucos no mundo navegam na abundância e grande parte das pessoas não tem com o que comer; a vós, Irmãs Pobres de S. Clara, Francisco continua a confiar sua última vontade:
“Eu, Frei Francisco pequenino, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima e perseverar nela até o fim. E rogo-vos, senhoras minhas, e dou-vos o conselho para que vivais sempre nesta santíssima vida e pobreza. E estai muito atentas para, de maneira alguma, nunca vos afastardes dela por doutrina ou conselho de alguém.9”Vós, Irmãs Pobres de S. Clara, sois colocadas por Deus em uma realidade concreta para serem sinais de contradição; não porque defendeis as estruturas, mas porque escolhestes, como pobres,viver a cada dia a radicalidade do Evangelho.

Cada fraternidade se torna sinal alternativo nos lugares de opulência e sinal de esperança entreaqueles que vivem na precariedade, através do testemunho da própria entrega e da confiança no Pai, revelado por Jesus Cristo. Não uma pobreza ideológica ou intelectual, mas um estilo de vida que testemunha a confiança total no Pai, que toma forma no cotidiano da existência. Não faltam, de fato, no mundo algumas experiências de fraternidades que escolhem “testemunhar uma vida extremamente sóbria, para serem solidárias com os pobres e confiarem somente na Providencia,viver cada dia da Providencia, na confiança de colocar-se nas mãos de Deus10” Não permitais que nada nem ninguém as desviem do seu propósito. Verifiquem, antes, se a diversidade de pensamentos no interior da Ordem se fundamenta na busca conjunta de serem fiéis a Jesus Cristo e ao seu Evangelho, ou se a defesa de estilos de vida não remete mais ao Altíssimo.

Deus continua a chamar alguns para serem profetas, não para auto-promover-se, mas para serem sinais do seu amor, da sua proximidade à humanidade. “O Senhor disse: Eu vi a miséria do meu povo no Egito e ouvi o seu clamor... conheço o seu sofrimento.11”
Vós nos falais, a partir de um estilo de vida pobre, sóbrio e humilde, da vossa fé na Providência de Deus: - “A pobreza é o sinal de pertença a Ele, é uma garantia de credibilidade de que o Reino já se faz presente em meio a nós. Um sinal sempre mais convincente aos nossos dias, quando se trata de uma pobreza vivida em fraternidade, com um estilo de vida simples e essencial, expressão de comunhão e de abandono à vontade de Deus. “
Vós nos ajudais a degustar a alegria da liberdade porque, contemplando, vocês vêem Deus em cada aspecto da vida. Demonstrais-nos que não seguem as modas de hoje, que não estão em concorrência com o mundanismo, onde as aparências, a auto-exacerbação, o individualismo, a auto-referência pretendem desvanecer a obra-prima de Deus. Vós nos contais a sua história com Deus que se nutre do silêncio, da escuta, da profundidade espiritual.

Vivendo na estabilidade, vós nos indicais o que é verdadeiramente essencial, belo, autêntico.
Sabemos que Deus é a verdadeira riqueza do coração humano13 e que a pobreza nos faz livres da escravidão das coisas e das necessidades artificiais para as quais a sociedade de consumo nos empurra: vós nos ajudais a redescobrir que Cristo é o único tesouro pelo qual vale a pena viver verdadeiramente.14. Para Clara e para Francisco, a “santíssima pobreza” não é simplesmente uma virtude, nem somente uma renúncia às coisas, mas é sobretudo um nome e um rosto: o rosto de Jesus Cristo Pobre e Crucificado (cfr. 2 LAg 19). Para os dois, a contemplação de Cristo pobre não se reduz a uma bela teoria mística do distanciamento do mundo, mas se encarna em uma pobreza real, concreta, essencial.15 Vejamos o testemunho deles: todos os dois amaram a pobreza para seguir Cristo com dedicação e liberdade total e continuam a ser, também para nós, um convite a cultivar a pobreza interior para crescer na fidelidade a Deus, unindo também um estilo de vida sóbrio e um
desapego dos bens materiais.16 Chamadas a seguir, na forma, o Cristo pobre, a abraçar pois a liberdade, deveis encontrar, se necessário, novas formas para exprimi-la17 com espírito profético, através de «um testemunho mais claro de pobreza pessoal e coletiva [...]18 », assim como fizeram Francisco e Clara. A inculturação de algumas fraternidades que partilham com os pobres sua vida é algo que às vezes impressiona.Quando partilhais com os que nada possuem, quando escolheis viver do estritamente necessário, quando não acumulais, quando vos confiais à fraternidade, vós fazeis crer na escolha da pobreza,porque viveis a sua fé em Deus Pai que cuida da humanidade.

EM SANTA UNIDADE
O mundo atual, imerso na aldeia global, arrisca de se tornar um palco cênico, onde todos e, ao
mesmo tempo, ninguém se move. A multidão, de fato, arrisca permanecer embriagada na rede do anonimato: indivíduos que perdem o sentido de pertença à família, ao grupo, à história, e parecem avançar sem ter um nome próprio e sem reconhecer que existe um tu.
Vós, ainda que em um mosteiro, viveis neste mundo, onde se multiplicam os “não-lugares” e onde tudo concorre para estruturar a vida fora do tempo e sem sentido. As pessoas com freqüência giram sem consciência da própria identidade, pobres na comunicação com os outros com quem estabelecem relacionamentos que se nutrem freqüentemente da superficialidade.Vós, na estabilidade, refletis na historia a presença de Deus que dá sentido ao viver cotidiano. Sois um sinal importante na Igreja, na Família Franciscana e no mundo, porque neste tempo em que cada um reivindica os próprios direitos, ou vive em função de si próprio, vós continuais a narrar, através de suas relações fraternais, que é ainda possível apostar no amor.
Em um mundo que quer reduzir o individuo a um ser consumista, imerso nas leis do grande mercado, apostais no relacionamento autêntico, que se nutre do silêncio, da escuta, da espera, do perdão, da gratuidade, do dom, da entrega na fé, do respeito pela diversidade de papéis, de relações que tem por objetivo fazer com que a pessoa cresça na liberdade, segundo a estatura de Cristo.
Hoje, de fato, enquanto a mentalidade corrente é de andar na direção do nivelamento dos papéis, demonstrais como ser “esposa, mãe e irmã19” nas suas fraternidades, conjugando firmeza e doçura, autoridade e empatia, responsabilidade e liberdade, autonomia e confiança.

Acolhendo cada irmã como única e insubstituível, revelais ao mundo a obra-prima de Deus, que faz parte da obra da criação que vós salvaguardais. Amais a cada pessoa na sua integralidade, no nível biológico, psicológico e espiritual, iluminada pelo Espírito, e que não pode ser reduzida a uma única dimensão.
Aos exemplos sempre mais presentes de intolerância, de desrespeito, de suspeita, de opressão, respondeis caminhando umas com as outras, e juntas como fraternidade, no coração dos homens e das mulheres do nosso tempo, em diálogo com todos aqueles que batem a sua porta. Vós nos ajudais a tornar-nos pessoas de escuta, a incentivar relações evangélicas, profundamente humanas; que buscam a acolhida de cada outra pessoa. É significativo para nós ver que nas coisas simples buscais sempre mais a felicidades dos outros, desejam “ser” para o outro.20 Chegando na contemplação a um novo modo de ser mulher consagrada, aprendeis na escola doEspírito a conjugar a constante atenção a Deus e às irmãs. Percebemos em vós um contínuo caminho para libertar-se de toda forma de egoísmo. Não vos preocupais em estar, a todo custo, nocentro do universo: viveis segundo a economia do dom, segundo a espiritualidade da comunhão,sem quantificar o amor e sem pretender nenhuma coisa dos outros. O que vos caracteriza é a alegria doada na gratuidade aprendida da experiência do amor de Cristo.

Precisamos obter dos vossos “laboratórios” de cultura, que se fundamenta no Evangelho, um método que nos ajude a conjugar os valores éticos com os valores sociais, para poder viver radicalmente segundo o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó... de Jesus Cristo e sermos portadores do Evangelho através de uma cultura de justiça e de paz.
Significativo é o cuidado que demonstrais para com a formação. Não permitis que essa seja somente uma simples instrução, mas objetivais um “saber ser”. Vós penetrais com inteligência emotiva naquilo que aprendeis e que retendes como significativo para a sua existência e para a existência dos outros. Testemunhais no cotidiano, através da maturação humana que surge da conversão contínua, que é possível seguir Jesus como irmã pobre.

Vós representais para muitos um Oasis de paz, onde os homens e as mulheres podem se interrogar sobre o mistério que envolve e atravessa a vida. Sois chamadas a fazer acreditar que o desejo de Deus reside no mais íntimo de cada criatura e que Deus procura constantemente o homem e a mulher, para estabelecer com cada um deles, na liberdade, um relacionamento fundado no amor.Sabemos o quanto vós vos encarregais das preocupações do mundo e como continuais a intercederjunto a Deus. Vendo-vos, nos recordamos que é necessário sonhar juntos para tornar visível um mundo evangélico.
Estamos convencidos de que o testemunho da “santa unidade” pede hoje uma reflexão sobre o relacionamento entre a Primeira e a Segunda Ordem. Não podemos ignorar que « um só e mesmo Espírito tinha tirado deste mundo tanto os frades como aquelas senhoras pobrezinhas.»

Que validade tem esta verdade em nossa vida? Estamos convencidos de que a santa « [...] unidade nos permite assumir, na diversidade das vocações, uma profunda plenitude das dimensões da Igreja, que o Concilio define perfeitamente fervorosa na ação e dedicada à contemplação [...] Se não é aceitável que o ramo feminino seja submetido ao masculino, mesmo assim a total separação não representa uma solução aceitável; pelo contrário, isso seria um dano tanto para os frades quantopara as irmãs. As nossas Ordens podem, ao invés disso, oferecer à Igreja e ao mundo o testemunho de uma sã e necessária complementaridade, vivida entre os dois ramos com uma atitude de grande emútuo respeito, mas ao mesmo tempo, de comunhão e de recíproca ajuda, que seja imagem da Igreja–comunhão».

Talvez tenha chegado o momento de consolidar um relacionamento que saiba conjugar autonomia e reciprocidade. Estamos conscientes de que não é na substituição, nem na tutela que se vive o carisma da santa unidade, mas num comportamento de escuta recíproca, no respeito mútuo, na atitude contemplativa, para tornar visíveis as riquezas comuns e a diversidade que manifestam abeleza da própria especificidade e também credível o testemunho vivido em Deus, sem confusãonem dependência.

O SENHOR VOS BENDIGA E VOS PROTEJA
Queremos sonhar convosco, para que Clara possa ver realizada a Regra na sua totalidade entre as suas filhas. Se a atualidade de Francisco e Clara estão sob o olhar de todos, é porque ainda hoje Deus continua a se comprometer conosco, e particularmente convosco, afim de que a inspiração originária que o Espírito confiou um dia aos nossos fundadores possa tomar forma hoje. Quem sabe qual incidência poderia ter ainda neste tempo o testemunho das Irmãs Pobres de Santa Clara sobre a Igreja e sobre o mundo!...
Com Francisco queremos renovar convosco o nosso compromisso: « Visto que por divina
inspiração vos fizestes filhas e servas do altíssimo e sumo Rei, o Pai celeste, e desposastes o Espírito Santo, escolhendo viver segundo a perfeição do santo Evangelho, quero e prometo, por mim e por meus irmãos, ter sempre por vós diligente cuidado e especial solicitude, como tenho poreles.23». E juntamente com Clara, pedimos a vós de serem “sempre solícitas a observar tudo quanto prometeram ao Senhor.”
Para o louvor de Cristo.

Fr. José Rodríguez Carballo, ofm Fr. Mauro Jöhri, ofmcap
Ministro Geral Ministro Geral
Fr. Marco Tasca, ofmconv Fr. Michael Higgins, TOR
Ministro Geral Ministro Geral
Roma, 02 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CLARA DE ASSIS AMOU A IGREJA

(Pe. Dr. Jorge Guarda)

Por amor a Cristo, que a fascinou e a quem se entregou para O contemplar, amar e imitar na pobreza, Clara de Assis amou também a Igreja e contribuiu para a sua renovação espiritual. As palavras que escreveu a Inês de Praga valem, sem dúvida alguma, também para ela: “Considero-te colaboradora do próprio Deus e um suporte dos membros mais débeis do seu Corpo Místico” (Santa Clara de Assis: escritos, biografia, documentos, 99). Na Regra, estabeleceu que ela e as irmãs permanecessem “sempre submissas e sujeitas aos pés da santa Igreja” e “firmes na fé católica” (Santa Clara..., 70-71). E no seu Testamento recomendou à Santa Igreja e ao Sumo Pontífice que ajudassem todas as suas “irmãs presentes e futuras”, para que elas se conservarem sempre fielmente no ideal da pobreza evangélica que prometeram a Deus “e ao nosso beatíssimo Pai Francisco” (Santa Clara..., 80).

Clara foi também reconhecida pela Igreja, nomeadamente por Papas e Cardeais, que aprovaram a sua entrega a Cristo, a apreciaram e ajudaram a seguir a sua vocação e a ordenar a comunidade das irmãs que a seguiam. Assim, em 1253, foi visitada pelo Papa Inocêncio IV, que nessa época residia em Assis. Este Papa, “que reconheceu a vida de Clara como superior à de qualquer mulher do seu tempo, não hesitou em honrá-la na hora da sua morte com a sua visita”. Clara manifestou-lhe grande devoção e pediu-lhe que lhe concedesse o perdão dos seus pecados. O Papa respondeu: “Oxalá eu não precisasse mais de tal graça”, e concedeu-lhe a absolvição total e a bênção, o que deixou Clara exultante de alegria por ter podido ver o representante do Senhor sobre a terra (Santa Clara..., 165-166).

A opção radical de Clara para seguir Cristo na pobreza e na virgindade e o testemunho da sua vida extraordinária marcaram o seu tempo e suscitaram em muitos o desejo de a imitar. Assim se conta na sua “Legenda”: “A fama da santidade da virgem Clara espalhou-se rapidamente pelas regiões circunvizinhas, e de toda a parte acorreram mulheres seduzidas pela fragrância do seu perfume. (...) Todas pretendiam seguir a Cristo em fervorosa emulação. Todos desejavam partilhar desta vida evangélica que o exemplo de Clara inspirava” (Santa Clara..., 131-132). Esta mulher atraía assim muitas pessoas para Cristo e para a vida evangélica, não apenas as que entravam no mosteiro mas também outras que seguiam a Cristo nas próprias situações de vida.

“ A fonte de bênçãos celestes” que rebentou em Assis, isto é, o movimento espiritual suscitado por Francisco e Clara, transformou-se em torrente, refere a “Legenda”, e com os seus braços alegrou “a cidade de Deus” (cf Sl 45,5), ou seja, a Igreja. Clara tornou-se luz para o mundo e ganhou muitas almas para Cristo: “O cultivo da castidade cresce imenso no meio do mundo e, seguindo o caminho traçado por Clara, o estado virginal readquiriu novo interesse aos olhos de toda a gente. Tal abundância de flores cultivadas por Clara, transformou a Igreja numa autêntica primavera de renovação, realizando-se o que ela mesma para si implorou. ‘confortai-me com flores, fortalecei-me com frutos, porque desfaleço de amor’ (Ct 2,5)” (Santa Clara..., 133).

Tomás de Celano testemunha que entre Clara e as irmãs clarissas domina de uma tal maneira e acima de tudo a virtude da mútua e contínua caridade que “as une de tal modo nas suas vontades que, mesmo numa fraternidade de quarenta ou cinquenta pessoas, como são em alguns lugares, a identidade do querer e do não querer faz de todas elas uma só alma”. Comentado estas palavras, Chiara Lubich, que também se considerou herdeira espiritual da santa de Assis e da qual adoptou o nome, escreve: “Se assim é, compreende-se como aquele rasto de luz que Santa Clara deixou atrás de si tenha chegado até nós agora, apaixonando-nos e fomentando nos nossos corações o desejo de não deixar senão o mesmo rasto atrás de nós. Esse rasto de luz não era outra coisa que a presença de Cristo que vivia nela e entre as clarissas. As suas vidas, que tiveram o seu ponto de partida na pobreza, confluiram para aqui: no viverem o Corpo místico, no viverem a Igreja” (Cristo dispiegato nei secoli, 42-43).

O perfume da vida e da herança espiritual de Clara de Assis continua a expandir-se na Igreja. Brotam novos frutos quer pelo seu exemplo e inspiração quer pelas suas irmãs clarissas, que a imitam na entrega total a Cristo, na vida de pobreza, na fraternidade e na oração incessante pela Igreja e pelo homens. (Homilia do Dr. Jorge Guarda, no dia 11 de Agosto na Solenidade de Santa Clara, Mosteiro de Santa Clara, Monte Real)



sexta-feira, 12 de março de 2010

Vocação Contemplativa na Igreja



A Vocação Contemplativa é um mistério humano e divino, um mistério desconcertante, impenetrável à razão pura do homem, e belo, cheio dessa beleza indescritível do Sobrenatural, que preenche, deslumbra e perde o olhar da alma que o vive... por dentro!
Não é fácil falar da Vida Contemplativa, como não é fácil falar, adequadamente e sem falhas, de Deus e da Igreja , principalmente dessa Igreja escondida, a Igreja que se cala, que se apaga, que se aniquila, que perscruta os segredos de Deus e que gozosa e apaixonadamente se submerge no próprio escondimento do Criador. Dela emerge uma sabedoria única, uma louca sabedoria que confunde e não raro escandaliza quem a observa de fora.

“...Uma só coisa é necessária, dizia Jesus a Sta. Marta. Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada” (Lc. 10, 42-43).
Escutar Jesus com todas as potências e faculdades da alma, seguir o Mestre que passa a cada instante e que segreda “renuncia-te a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-Me”, e escalar com ousadia, criatividade, coragem e santa teimosia a elevada montanha do Evangelho, permanecendo aos pés do divino Senhor, na intimidade dilacerante d’Aquele que é Amor, que dá amor e que só pede amor... é este o universo imenso da Vida Contemplativa.

Sim, a Vida Contemplativa é um insondável Mistério de Amor! O amor não se explica, não se descreve, não se reduz a palavras. Por natureza, o amor é desprovido de razões, ele próprio é a razão de si mesmo, o seu princípio e o seu fim. “Amo porque amo e amo para amar”, dizia S. Bernardo e diz toda a alma contemplativa. Quem poderá entendê-lo?
Mistério do amor de Deus..., mistério desconcertante que quanto mais se descobre, maior e mais infinita se lhe reconhece a imensidão do Desconhecido... O Amor contempla-se e perde na contemplação aquele que O contempla.

“Fixa o teu olhar no espelho da eternidade, deixa a tua alma banhar-se no esplendor da glória e une o teu coração Áquele que é encarnação da essência divina, para que, contemplando-O, te transformes inteiramente na imagem da Sua Divindade”, escrevia Santa Clara a Santa Inês de Praga.
Há aqui um império de silêncio que é todo o dinamismo incessante da vida contemplativa e que é também a alma e o coração do Corpo universal da Igreja de Cristo.
Só o amor é, só ele age, só ele cria e recria todas as coisas, só ele é a vida da Igreja continuamente a fluir, do “interior” para o “exterior” e do “exterior” para o “interior”, por todos os seus membros.

O amor é a contemplação e a acção da Igreja, primeiro é contemplação e só depois poderá ser acção: apostolado dos sacerdotes, acção dos missionários, missão variadíssima dos fiéis leigos, força que gera virgens, mártires, confessores... Tal é a energia invisível e invencível que brota cristalina, punjante de força, da fonte escondida... da Vida Contemplativa. Por isso, escrevia Santa Clara numa das suas cartas: “Considero-te colaboradora do próprio Deus e um suporte dos membros mais débeis do Seu Corpo”.
Profecia de Deus no meio do mundo dos homens, a vida contemplativa é sinal da presença misteriosa de Deus. Ela é o segredo oculto da Igreja, a sua “arma secreta”, uma espécie de mística chama permanentemente a arder e a exalar perfume de incenso sobre o Altar Divino.

Dentro da Igreja, a vida contemplativa é o universo do amor que dá a vida, que comunica vida a todo o momento e que renova a própria vida. Ela possui uma linguagem própria, uma Linguagem diferente de todas as linguagens e idiomas do mundo: o Amor de Deus! Ela tem um único Alimento, uma Força apenas e uma Energia singular: o Amor de Deus! Ela não tem nada e possui tudo, um Tudo infinitamente grande e imensamente rico: o Amor de Deus!...
A Vida Contemplativa é o coração da Santa Igreja. Só é possível falar do coração falando de coração, ou correríamos o risco de deturpar a sua própria essência.

O coração é um músculo vigoroso, um músculo que trabalha e que reza, que se esconde no interior e que se cala, que bate silenciosamente, que leva a vida a todo o lado, que renova e purifica a seiva vital e que... desaparece misterioso “entre muros”! Isto é a vida contemplatina na Igreja.

O coração da Igreja é pequenino, de uma pequenez desconcertante, e ao mesmo tempo ele é imensamente grande, possui uma grandeza absolutamente admirável. Encerrado no reduzido espaço da Clausura, diríamos sorrindo “um Sacrário”, o coração da Igreja (a Vida Contemplativa) abarca o mundo inteiro, abraça a humanidade de todos os tempos (passado, presente e futuro) e enche e preenche todo o universo. E se fosse apenas isto seria ainda pequeno, de uma ínfima pequenez. Se o coração da Igreja desce aos abismos mais obscuros e esquecidos da humanidade, chegando aos confins da terra, com uma energia radiante e poderosa ela sobe às alturas, rasga o “impossível” e... vive com Deus, para O louvar, adorar, desagravar e amar, com amor profundo, intenso e apaixonado...

Culto a Deus e santificação da humanidade, é este todo o dinamismo da Igreja, Igreja contemplativa e activa, que se desenvolve, cresce e ramifica, numa imensa e incessante Liturgia Sagrada...
Dizia Jesus a Santa Teresa de Ávila: “Que seria do mundo, se não fossem as comunidades contemplativas?”

A Vida Contemplativa é a vida eternamente jovem do espírito. Quem a abraça, abraça a altíssima Pobreza e torna-se a pessoa mais rica do mundo; quem a escolhe, escolhe a santíssima Castidade, e descobre uma maternidade nova, fecundíssima, universal; quem a elege, elege a ousadia soberana da Obediência, torna-se imitador d’Aquele que foi “obediente até à morte”, servo humilde e amante de Deus, servo tão poderoso que atrai a complacência, o favor e a amizade do Omnipotente; quem nela penetra, penetra no misterioso mundo do Claustro, rompe com todas as rotinas e desejos mundanos para embrenhar-se na mais vertiginosa aventura do desconhecido: aventura toda divina!

A Vida Contemplativa é um mistério de fé. Porque se acredita ama-se, e porque se ama, vive-se: vive-se Deus! A radicalidade do Evangelho vivido com amor, com verdade e com penetração interior é o alto desafio, desafio sempre novo, desconcertantemente novo, que se desenrola, ardente, forte e sublime, na arena escaldante e sossegada do Claustro. Aqui a alma religiosa luta permanentemente, em “combate” aceso e singular, luta consigo mesmo e luta com o próprio Deus, numa batalha imensa, com princípio mas sem fim... luta de amor..., para que Deus seja Tudo em todos...

A fé vê aquilo que os olhos não vêem, toca aquilo que as mãos não alcançam, saboreiam aquilo que os lábios não tocam, escuta aquilo que os ouvidos não ouvem e aspira o perfume que o olfacto não descobre. O Claustro é todo ele habitado por uma Presença viva, Presença forte e radiante que escapa ao universo dos sentidos: Deus. É Ele o centro da Igreja, Claustro infinitamente misterioso, belo e imenso, mergulhado no eterno silêncio da contemplação, da adoração e do amor da Santíssima Trindade.

A vida Contemplativa é simplesmente isto: Deus em nós e nós em Deus. Toda a luta que aqui se desenvolve, luta que empenha o ser, a alma, o corpo, a vida e a morte, é cumplicidade do amor. E o amor... é feliz!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Quem são as Irmãs Clarissas?

O Universo Divino da Irmã Clarissa

É impossível olhar para a vocação de Irmã Clarissa sem sorrir, com um sorriso profundo, imensamente feliz e repleto de gratidão para com Deus.
Ser Clarissa!

Que sonho, que ventura, que projecto de vida tão maravilhoso...

Ser Clarissa é caminho sempre novo, num universo divino, deslumbrante, por desbravar...; é desafio sereno e ao mesmo tempo ardente de amor, sedento de Deus, sequioso dos mais altos cumes... e louco, cheio dessa loucura divina que faz tão pequenino o claustro do mundo e tão grande o mundo do claustro.
Ser Clarissa não é um estado estanque, uma rotina! É, sim, uma imensa aventura vivida e por viver, uma aventura num envolvimento com o divino que se vive hoje, agora... e que enche o tempo de uma novidade constante, de uma plenitude bela e radiosa.

A Clarissa não tem idade!
Com Clara de Assis, e por Maria, a Mãe do Senhor, também ela, com olhar de mãe, abraça a humanidade de todos os tempos, de todos os séculos e de todos os lugares...e do seu escondimento silencioso, procura tocar o mistério de todas as vidas, de todos os corações e de todas as almas...; e na oração que intercede, suplica e dá a vida, tudo marca com o selo do amor fraterno e o oferece ao Pai misericordioso.

A História da Humanidade, cheia de guerras fratricidas, ódios, sofrimentos e dos crimes mais horrendos... mas, por outro lado, com as suas belezas, histórias memoráveis de heroísmo e altruísmo... tudo passa pelas mãos unidas e orantes de uma Clarissa, permanentemente em adoração ao Santíssimo Sacramento. Ninguém é esquecido, ninguém é desprezado, ninguém fica de fora ou por lembrar neste perene, silencioso e discreto viver para Deus.

A Clarissa está em Deus e está no mundo!
Com o olhar da alma imerso no Coração trespassado de Cristo, o silêncio das palavras que não se pronunciam é a voz que canta louvor à Santíssima Trindade e é clamor que se eleva sem cessar suplicando misericórdia. Ela vive unicamente para Deus e vive também para todos os irmãos; é serva de Deus e é também serva dos seus irmãos... Com o coração escuta as “confidências” de Deus e com o mesmo coração escuta, acolhe e guarda as confidências dos irmãos.

O universo da Clarissa é Deus!!!
O Amor infinito e insondável de Deus, não se compreende mas admira-se, não se explica mas aceita-se, não se analisa mas contempla-se com a alma infinitamente pequena, com fé deslumbrada pela Beleza divina e pela doçura indizível. Não é possível compreender o Incompreensível. A Clarissa limita-se a fitá-Lo, com os olhos cheios de amor e de ventura. O Incompreensível escolheu-a e ela escolheu o Incompreensível: é Ele, o mesmo Deus, que faz da sua existência um mistério incompreensível!...

A vida da Clarissa é... “imensa”!
Deus não tem limites, por isso a vida da Clarissa também não tem limites. O Evangelho é a senda aberta que se estende, a perder de vista, diante dos seus pés num desafio de todos os dias a levar as almas à salvação. Sim, o seu coração, a sua alma e a sua vida, erguendo-se da ínfima pequenez, abraçam todos os universos - o universo da criação, o universo dos homens e o universo de Deus – no abraço da oração, da penitência e do amor, à imagem da divina Mãe do Redentor.
Ser Clarissa é ser SIM a Deus!

O sim da Clarissa está impregnado de poesia, poesia que se sente sem se tocar, que se saboreia sem se sentir e que encanta sem se ver. Poesia que é harmonia, construída e por construir, um projecto inefavelmente doce e desconcertantemente novo, uma batalha urgente que aponta uma Meta - Cristo - e que apresenta como arma o radicalismo evangélico mais fiel, mais ousado e mais... apaixonado.

Deus é o único Absoluto da vida de uma Clarissa, da sua alma e do seu coração... Sim, humanamente falando, a Clarissa não tem nada, não possui nada; mas divinamente falando, ela tem Tudo... Os votos que profere, mais do que quatro colunas de um templo são aliança de amor incondicional sem “ses” e sem “mas”, que transforma o tempo em eternidade e a vida em plenitude divina.

Pelo voto de Pobreza, Deus torna-se a sua única Riqueza, o Tesouro mais caro e a Pérola de beleza inigualável...; pelo voto de Castidade, Deus é o Esposo escolhido da alma, o Divino Jardineiro de um místico jardim, o Rochedo único de uma vida que se eleva da terra ao céu...; pelo voto de Obediência, Deus é todo o querer da alma, o seu único desejo, a sua luta, o seu trabalho, o seu descanso, a sua alegria...; pelo voto de Clausura, Deus é a morada única, a mais maravilhosa sarça ardente, o cume infinitamente misterioso, profundamente místico e verdadeiramente apaixonante.
Universo insondável de ventura!...

Ser Clarissa é ser mulher, é ser jovem portadora de Esperança, é ser farol, luz radiosa transmissora de alegria. Alma adoradora, ela vive permanentemente um deslumbramento que não se descreve, mas que abisma o ser numa indizível, profunda e permanente Acção de Graças.

A vocação da Clarissa é o maior de todos os benefícios que ela recebe e que diariamente continua a receber do Benfeitor, do Pai das misericórdias, pelos quais deve render infinitas graças; e quanto mais perfeita e sublime ela é, tanto mais dele se torna devedor, escreveu Santa Clara de Assis no seu Testamento.
Não é possível ler estas palavras sem sentir um frémito de emoção feliz. A alma apaixonada desta mulher - Santa Clara de Assis - um espírito loucamente enamorado de Deus, possui a força, a energia e o dinamismo sobre-humano da profecia.

Oito séculos passaram sobre Clara e a sua mensagem permanece ainda mais fresca que o seu corpo incorrupto. O percurso extraordinário e simples desta mulher escreve com letras de fogo uma das mais admiráveis epopeias de amor de todos os tempos. Epopeia da Igreja que é também desafio para o cristão de hoje.

Sim, o universo tão límpido e brilhante de Clara é o universo da Clarissa, jardim de Deus, só de Deus, repleto de amor, gratidão e adoração.

Um dia em Vossos átrios, Senhor, vale por mais de mil!..., diz o salmista e acrescenta: Para mim, a felicidade é estar junto de Deus.

Este é o testemunho real da vida da Clarissa, é o grito mais solene e mais ardente da sua alma. Esta é a desconcertante linguagem do Claustro de Clara, oferta de Deus ao mundo, escondido e patente entre ascéticos muros...; onde se agradece o dom inefável do Sacerdote e se acompanha, no seu ministério através do silêncio e presença orante, diante de Jesus Sacramentado, este é...
...o universo divino e deslumbrante da Irmã Clarissa!

Ser Clarissa

O Universo Divino da Irmã Clarissa

É impossível olhar para a vocação de Irmã Clarissa sem sorrir, com um sorriso profundo, imensamente feliz e repleto de gratidão para com Deus.
Ser Clarissa!

Que sonho, que ventura, que projecto de vida tão maravilhoso...
Ser Clarissa é caminho sempre novo, num universo divino, deslumbrante, por desbravar...; é desafio sereno e ao mesmo tempo ardente de amor, sedento de Deus, sequioso dos mais altos cumes... e louco, cheio dessa loucura divina que faz tão pequenino o claustro do mundo e tão grande o mundo do claustro.

Ser Clarissa não é um estado estanque, uma rotina! É, sim, uma imensa aventura vivida e por viver, uma aventura num envolvimento com o divino que se vive hoje, agora... e que enche o tempo de uma novidade constante, de uma plenitude bela e radiosa.

A Clarissa não tem idade!
Com Clara de Assis, e por Maria, a Mãe do Senhor, também ela, com olhar de mãe, abraça a humanidade de todos os tempos, de todos os séculos e de todos os lugares...e do seu escondimento silencioso, procura tocar o mistério de todas as vidas, de todos os corações e de todas as almas...; e na oração que intercede, suplica e dá a vida, tudo marca com o selo do amor fraterno e o oferece ao Pai misericordioso.

A História da Humanidade, cheia de guerras fratricidas, ódios, sofrimentos e dos crimes mais horrendos... mas, por outro lado, com as suas belezas, histórias memoráveis de heroísmo e altruísmo... tudo passa pelas mãos unidas e orantes de uma Clarissa, permanentemente em adoração ao Santíssimo Sacramento. Ninguém é esquecido, ninguém é desprezado, ninguém fica de fora ou por lembrar neste perene, silencioso e discreto viver para Deus.A Clarissa está em Deus e está no mundo!

Com o olhar da alma imerso no Coração trespassado de Cristo, o silêncio das palavras que não se pronunciam é a voz que canta louvor à Santíssima Trindade e é clamor que se eleva sem cessar suplicando misericórdia. Ela vive unicamente para Deus e vive também para todos os irmãos; é serva de Deus e é também serva dos seus irmãos... Com o coração escuta as “confidências” de Deus e com o mesmo coração escuta, acolhe e guarda as confidências dos irmãos.

O universo da Clarissa é Deus!!!
O Amor infinito e insondável de Deus, não se compreende mas admira-se, não se explica mas aceita-se, não se analisa mas contempla-se com a alma infinitamente pequena, com fé deslumbrada pela Beleza divina e pela doçura indizível. Não é possível compreender o Incompreensível. A Clarissa limita-se a fitá-Lo, com os olhos cheios de amor e de ventura. O Incompreensível escolheu-a e ela escolheu o Incompreensível: é Ele, o mesmo Deus, que faz da sua existência um mistério incompreensível!...

A vida da Clarissa é... “imensa”!
Deus não tem limites, por isso a vida da Clarissa também não tem limites. O Evangelho é a senda aberta que se estende, a perder de vista, diante dos seus pés num desafio de todos os dias a levar as almas à salvação. Sim, o seu coração, a sua alma e a sua vida, erguendo-se da ínfima pequenez, abraçam todos os universos - o universo da criação, o universo dos homens e o universo de Deus – no abraço da oração, da penitência e do amor, à imagem da divina Mãe do Redentor.
Ser Clarissa é ser SIM a Deus!

O sim da Clarissa está impregnado de poesia, poesia que se sente sem se tocar, que se saboreia sem se sentir e que encanta sem se ver. Poesia que é harmonia, construída e por construir, um projecto inefavelmente doce e desconcertantemente novo, uma batalha urgente que aponta uma Meta - Cristo - e que apresenta como arma o radicalismo evangélico mais fiel, mais ousado e mais... apaixonado.

Deus é o único Absoluto da vida de uma Clarissa, da sua alma e do seu coração... Sim, humanamente falando, a Clarissa não tem nada, não possui nada; mas divinamente falando, ela tem Tudo... Os votos que profere, mais do que quatro colunas de um templo são aliança de amor incondicional sem “ses” e sem “mas”, que transforma o tempo em eternidade e a vida em plenitude divina.

Pelo voto de Pobreza, Deus torna-se a sua única Riqueza, o Tesouro mais caro e a Pérola de beleza inigualável...; pelo voto de Castidade, Deus é o Esposo escolhido da alma, o Divino Jardineiro de um místico jardim, o Rochedo único de uma vida que se eleva da terra ao céu...; pelo voto de Obediência, Deus é todo o querer da alma, o seu único desejo, a sua luta, o seu trabalho, o seu descanso, a sua alegria...; pelo voto de Clausura, Deus é a morada única, a mais maravilhosa sarça ardente, o cume infinitamente misterioso, profundamente místico e verdadeiramente apaixonante.

Universo insondável de ventura!...
Ser Clarissa é ser mulher, é ser jovem portadora de Esperança, é ser farol, luz radiosa transmissora de alegria. Alma adoradora, ela vive permanentemente um deslumbramento que não se descreve, mas que abisma o ser numa indizível, profunda e permanente Acção de Graças.
A vocação da Clarissa é o maior de todos os benefícios que ela recebe e que diariamente continua a receber do Benfeitor, do Pai das misericórdias, pelos quais deve render infinitas graças; e quanto mais perfeita e sublime ela é, tanto mais dele se torna devedor, escreveu Santa Clara de Assis no seu Testamento.
Não é possível ler estas palavras sem sentir um frémito de emoção feliz. A alma apaixonada desta mulher - Santa Clara de Assis - um espírito loucamente enamorado de Deus, possui a força, a energia e o dinamismo sobre-humano da profecia.
Oito séculos passaram sobre Clara e a sua mensagem permanece ainda mais fresca que o seu corpo incorrupto. O percurso extraordinário e simples desta mulher escreve com letras de fogo uma das mais admiráveis epopeias de amor de todos os tempos. Epopeia da Igreja que é também desafio para o cristão de hoje.
Sim, o universo tão límpido e brilhante de Clara é o universo da Clarissa, jardim de Deus, só de Deus, repleto de amor, gratidão e adoração.
Um dia em Vossos átrios, Senhor, vale por mais de mil!..., diz o salmista e acrescenta: Para mim, a felicidade é estar junto de Deus.
Este é o testemunho real da vida da Clarissa, é o grito mais solene e mais ardente da sua alma. Esta é a desconcertante linguagem do Claustro de Clara, oferta de Deus ao mundo, escondido e patente entre ascéticos muros...; onde se agradece o dom inefável do Sacerdote e se acompanha, no seu ministério através do silêncio e presença orante, diante de Jesus Sacramentado, este é...
...o universo divino e deslumbrante da Irmã Clarissa!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Uma presença orante

No coração do Mistério


Liturgicamente, celebramos mais ou menos conscientes, com maior ou menor intensidade espiritual o grande acontecimento do nascimento do Filho de Deus. Cidade e aldeias vestiram-se de luzes, música e cores. As pessoas celebraram segundo as suas convicções religiosas este grande acontecimento que marcou e marca a história da humanidade. Mas deste extravasar de festa exterior o que é que ficou no coração e na vida das pessoas, na concreta dos cristãos? Este grande mistério que recordamos e festivamente celebramos é como uma pequena semente: lançada em terreno propício dará muito fruto “ora trinta, ora sessenta ora cem por um. Porém, se cair entre os espinhos, pedras ou no caminho, por mais sagrada que seja, nada produzirá.

Contudo para nós cristãos, surge em cada fim de ano como momento de graça, como uma lufada de ar fresco, uma ocasião propícia para redescobrir o nosso lugar, a nossa vocação no coração da Igreja à luz das lições aprendidas e apreendidas a partir deste acontecimento. Desde há 2000 anos que os discípulos deste Menino, Deus-connosco encontraram o seu lugar próprio e especifico no centro deste mistério. Desde há 2000 anos que também os Sacerdotes, cada sacerdote, estão no coração deste Sagrado Mistério. Todos os dias são Natal graças ao seu ministério sacerdotal.

Todos os dias, os Sacerdotes fazem nascer sobre o altar, de simples capelas ou catedrais, o Filho de Deus, o Verbo da Vida. Tal como a Virgem Mãe O deu ao mundo, naquela fria gruta de Belém há 2000 anos, também, hoje, as mãos ungidas e sagradas dos Sacerdotes nos oferecem em cada Eucaristia Esse Menino, feito para nós Luz do mundo, Verdadeiro Pão da Vida. Que o homem todo se espante, que o mundo todo trema, que o Céu exulte, quando sobre o altar nas mãos do Sacerdote está Cristo, o Filho de Deus Vivo (S. Francisco de Assis).
Com um secreto brilho no olhar e a alma extasiada, tal como S. José, também os Sacerdotes ante este sagrado Mistério eucarístico se ajoelham e reverentemente adoram o Filho de Deus.
Pela proclamação da Palavra tornam-se os grandes anunciadores da Boa Nova como os Anjos naquela noite fria mas tão luminosa “como na terra nunca viste”. Também eles hoje anunciam ao mundo, aos homens de boa vontade a mensagem da esperança: hoje nasceu para vós um Menino. Se são protagonistas desta boa nova também são fiéis ouvintes como os pobres pastores.
Também eles correm pressurosos a levar os seus presentes e adorar o Recém-nascido presente sobre o altar tão real e perfeitamente como está no Céu e como esteve outrora reclinado na manjedoura. É o mesmo Jesus o mesmo Filho de Deus.

Pela simplicidade, pureza, dignidade e fidelidade de vida, cada Sacerdote torna-se um verdadeiro missionário deste grande acontecimento, deste sublime mistério da Encarnação do Verbo de Deus. Como os pastores começam a espalhar tudo o que lhes tinham dito a respeito daquele Menino, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido (Lc 2,17.19). Um dia perguntaram à Madre Teresa da Calcutá quais eram as pessoas mais necessárias na terra. Sem qualquer hesitação respondeu: Os Sacerdotes. Sim, graças aos Sacerdotes, todos os dias é Natal.
Graças aos Sacerdotes, todos os dias, a Igreja celebra em cada Eucaristia este grande Mistério. Graças aos Sacerdotes todas as noites da humana criatura se reveste de pontos luminosos de esperança porque, em cada dia, um Menino nasce para nós, um filho nos é dado. Graças aos Sacerdotes todos os dias, a todas as horas, em todos os minutos nos podemos aproximar deste Menino, outrora reclinado no presépio e hoje presente nos sacrários das nossas igrejas e, com humildade e confiança, adorar o nosso Deus, falar-Lhe, escutá-l’O, oferecer-Lhe presentes abrindo-Lhe ao mesmo tempo as mãos e o coração para receber os seus dons. Graças aos Sacerdotes essa estrela que há 2000 anos brilhou em Belém de Judá não se extinguiu ou jamais se extinguirá. Continua a brilhar na escuridão da noite e a conduzir todos os homens de boa vontade que de coração sincero continuam à procura do Deus Menino.

Sim, verdadeiramente os Sacerdotes, cada Sacerdote, estao no coraçao deste grande, sublime Mistério do nascimento do Filho de Deus. Sim, graças aos Sacerdotes, cada dia em cada Eucaristia podemos exclamar: HOJE É NATAL!

sábado, 19 de dezembro de 2009

Claustro
“A Voz que clama no deserto”

Quem poderá imaginar que a verdadeira vida, a vida pungente de vida, vida profética, evangélica, divina... nasce no silêncio da oração? Jesus parte para o deserto e mergulha no silêncio imperscrutável do Eterno Pai. Atrás d’Ele vai João Baptista, uma multidão imensa de profetas, padres, monges... desde a antiguidade até aos dias de hoje.

O que haverá de atraente no deserto?
Que novidade ou que beleza nele se encerra???

O deserto contém, no mistério que o habita, o deslumbramento temeroso da montanha, a imensidão longínqua dos oceanos, o ardor sempre novo do Espírito e... uma “solidão” imensa, uma “solidão” silenciosa e dialogante, uma “solidão” ardente, desejável, gozosa... a solidão com Deus.


O deserto é o confronto do homem consigo mesmo porque é encontro do homem com Deus.
Há um grito indizível, um clamor, uma voz que se eleva do “silêncio” do deserto; uma alegria penetrante tão viva e tão forte que se torna peculiar, diferente e única; há um ardor, uma chama, uma ousadia, uma juventude... que clama e convida, que insiste e desafia.


O deserto é o lugar das núpcias, o lugar da aliança, o lugar da grande cumplicidade entre Deus e o homem. “Tem que haver uma cumplicidade entre a nossa liberdade e a liberdade infinita de Deus”, dizia um autor. Desta cumplicidade nasce o deslumbramento inigualável do eternamente novo. Novidade infinita! Novidade que é toda ela Beleza, Beleza inebriante, Beleza que ultrapassa tudo, Beleza inefável e indefinível porque é... perfeição infinita!


O deserto não é apenas caminho de morte: mais do que tudo, ele é caminho de Vida. Acima do Sol que domina toda a imensidão arenosa da “paisagem”, sente-se o Amor mais que ardente do Omnipotente. Este Amor queima, transforma, purifica e renova, recria todas as coisas... tudo! Amor imenso que É e que dá sentido ao ser, Amor que é Vida e que dá vida, vida em plenitude...


O deserto é uma escola de vida e, porque o é, é também escola de consciência, de fraternidade, de solidariedade e de acção cívica. É uma escola onde se aprende a amar, onde se aprende a ser verdadeiramente homem e mulher. É uma escola onde se aprende a lutar, onde se aprende a enfrentar os verdadeiros desafios da vida... e onde se aprende a vencer a batalha da existência!


Não há luta como aquela que se desenrola no deserto. É uma luta de amor, de amor apaixonado e louco, amor que só se sacia no ardor insasiável de se dar, de se oferecer sem medida, de se entregar sem reservas, no tempo e na eternidade.
O deserto é activo.


A paz silenciosa que o habita está repleta de actividade, de vida, de uma energia desconcertante, criativa e ousada que é toda a alma invisível do mistério que o preenche. É uma espécie de seiva invisível mas vital; uma seiva que vivifica, renova e revigoriza; uma torrente que se precipita, verdadeiramente imparável, porque o amor... não pára nunca.
O deserto é também uma nascente cristalina, pura e suavíssima; uma nascente de águas ardentíssimas, misteriosas águas de fogo que correm incessantemente para banhar a alma, regar todas as almas... para abraçar e abrasar o universo inteiro.


O deserto é um império de luz, um império imenso, de uma imensidão a perder vista, um império que esconde nas suas sombras (nas sombras da sua alma verdadeira) aquela Luz divina, Luz mais brilhante que mil sóis..., aquela Luz Eterna que tudo invade, tudo cria e a todos chama, com a voz profunda e desconcertante do silêncio... cada um pelo seu nome.
É aqui, neste lugar aparentemente árido, agreste e sem vida que o Baptista, o filho de Isabel e de Zacarias encontra o ambinte propício para se preparar para a missão grandiosa de Precursor do Messias. É aqui, no deserto, que se enterra o homem e surge o profeta, é aqui no deserto que se cala o ruído e fala o silêncio, é aqui no deserto que morre o efémero e que nasce a Eternidade!!!


A voz que clama no deserto não é outra senão Voz de Deus. É a voz silenciosa, mística e eterna de um Sacrário, de uma Igreja... de um Mosteiro!
Sim, tal como o deserto, também o Mosteiro é local de encontro, lugar de confronto, uma região ardente, habitação do silêncio, aparentemente árido..., mas repleto de vida. O Mosteiro é deserto e é montanha, contém em si a imensidão e o deslumbramento...
O Mosteiro é silêncio e é voz de Deus, é paz que luta, é amor que se dá sempre mais; é vida que grita contra o materialismo sem alma, que denuncia a mentira dos ídolos do poder, do ter e de tantos falsos prazeres..., é presença viva que sacode o indiferentismo e que rasga todo o império da morte.


Há uma pergunta que se repete vezes sem conta entre as pessoas que nos visitam: “Porque sorriem tanto as Irmãs?” A resposta é simples: Deus habita e preenche o Claustro. Deus renova-o e nele se alegra. Deus está, reina e impera... e a alegria, a mais pura e verdadeira alegria faz-se presente, torrencial, desconcertante, inesgotável...
No trabalho como na oração, na simplicidade da vida fraterna e nesta aventura imensamente feliz de amar até ao dom total; no deserto do silêncio escondido e na montanha mística do grande encontro com Deus... Jesus é o Mestre, o Rei absoluto e o Esposo muito amado dos corações. É esta a sabedoria e é esta a grande loucura das nossas vidas.


No segredo incontestável da presença misteriosa e “incómoda” do Mosteiro, sabemos que fala, com a mais eloquente linguagem do amor, a sempre profética e incansável... “Voz que clama no deserto”.