sábado, 19 de dezembro de 2009

Claustro
“A Voz que clama no deserto”

Quem poderá imaginar que a verdadeira vida, a vida pungente de vida, vida profética, evangélica, divina... nasce no silêncio da oração? Jesus parte para o deserto e mergulha no silêncio imperscrutável do Eterno Pai. Atrás d’Ele vai João Baptista, uma multidão imensa de profetas, padres, monges... desde a antiguidade até aos dias de hoje.

O que haverá de atraente no deserto?
Que novidade ou que beleza nele se encerra???

O deserto contém, no mistério que o habita, o deslumbramento temeroso da montanha, a imensidão longínqua dos oceanos, o ardor sempre novo do Espírito e... uma “solidão” imensa, uma “solidão” silenciosa e dialogante, uma “solidão” ardente, desejável, gozosa... a solidão com Deus.


O deserto é o confronto do homem consigo mesmo porque é encontro do homem com Deus.
Há um grito indizível, um clamor, uma voz que se eleva do “silêncio” do deserto; uma alegria penetrante tão viva e tão forte que se torna peculiar, diferente e única; há um ardor, uma chama, uma ousadia, uma juventude... que clama e convida, que insiste e desafia.


O deserto é o lugar das núpcias, o lugar da aliança, o lugar da grande cumplicidade entre Deus e o homem. “Tem que haver uma cumplicidade entre a nossa liberdade e a liberdade infinita de Deus”, dizia um autor. Desta cumplicidade nasce o deslumbramento inigualável do eternamente novo. Novidade infinita! Novidade que é toda ela Beleza, Beleza inebriante, Beleza que ultrapassa tudo, Beleza inefável e indefinível porque é... perfeição infinita!


O deserto não é apenas caminho de morte: mais do que tudo, ele é caminho de Vida. Acima do Sol que domina toda a imensidão arenosa da “paisagem”, sente-se o Amor mais que ardente do Omnipotente. Este Amor queima, transforma, purifica e renova, recria todas as coisas... tudo! Amor imenso que É e que dá sentido ao ser, Amor que é Vida e que dá vida, vida em plenitude...


O deserto é uma escola de vida e, porque o é, é também escola de consciência, de fraternidade, de solidariedade e de acção cívica. É uma escola onde se aprende a amar, onde se aprende a ser verdadeiramente homem e mulher. É uma escola onde se aprende a lutar, onde se aprende a enfrentar os verdadeiros desafios da vida... e onde se aprende a vencer a batalha da existência!


Não há luta como aquela que se desenrola no deserto. É uma luta de amor, de amor apaixonado e louco, amor que só se sacia no ardor insasiável de se dar, de se oferecer sem medida, de se entregar sem reservas, no tempo e na eternidade.
O deserto é activo.


A paz silenciosa que o habita está repleta de actividade, de vida, de uma energia desconcertante, criativa e ousada que é toda a alma invisível do mistério que o preenche. É uma espécie de seiva invisível mas vital; uma seiva que vivifica, renova e revigoriza; uma torrente que se precipita, verdadeiramente imparável, porque o amor... não pára nunca.
O deserto é também uma nascente cristalina, pura e suavíssima; uma nascente de águas ardentíssimas, misteriosas águas de fogo que correm incessantemente para banhar a alma, regar todas as almas... para abraçar e abrasar o universo inteiro.


O deserto é um império de luz, um império imenso, de uma imensidão a perder vista, um império que esconde nas suas sombras (nas sombras da sua alma verdadeira) aquela Luz divina, Luz mais brilhante que mil sóis..., aquela Luz Eterna que tudo invade, tudo cria e a todos chama, com a voz profunda e desconcertante do silêncio... cada um pelo seu nome.
É aqui, neste lugar aparentemente árido, agreste e sem vida que o Baptista, o filho de Isabel e de Zacarias encontra o ambinte propício para se preparar para a missão grandiosa de Precursor do Messias. É aqui, no deserto, que se enterra o homem e surge o profeta, é aqui no deserto que se cala o ruído e fala o silêncio, é aqui no deserto que morre o efémero e que nasce a Eternidade!!!


A voz que clama no deserto não é outra senão Voz de Deus. É a voz silenciosa, mística e eterna de um Sacrário, de uma Igreja... de um Mosteiro!
Sim, tal como o deserto, também o Mosteiro é local de encontro, lugar de confronto, uma região ardente, habitação do silêncio, aparentemente árido..., mas repleto de vida. O Mosteiro é deserto e é montanha, contém em si a imensidão e o deslumbramento...
O Mosteiro é silêncio e é voz de Deus, é paz que luta, é amor que se dá sempre mais; é vida que grita contra o materialismo sem alma, que denuncia a mentira dos ídolos do poder, do ter e de tantos falsos prazeres..., é presença viva que sacode o indiferentismo e que rasga todo o império da morte.


Há uma pergunta que se repete vezes sem conta entre as pessoas que nos visitam: “Porque sorriem tanto as Irmãs?” A resposta é simples: Deus habita e preenche o Claustro. Deus renova-o e nele se alegra. Deus está, reina e impera... e a alegria, a mais pura e verdadeira alegria faz-se presente, torrencial, desconcertante, inesgotável...
No trabalho como na oração, na simplicidade da vida fraterna e nesta aventura imensamente feliz de amar até ao dom total; no deserto do silêncio escondido e na montanha mística do grande encontro com Deus... Jesus é o Mestre, o Rei absoluto e o Esposo muito amado dos corações. É esta a sabedoria e é esta a grande loucura das nossas vidas.


No segredo incontestável da presença misteriosa e “incómoda” do Mosteiro, sabemos que fala, com a mais eloquente linguagem do amor, a sempre profética e incansável... “Voz que clama no deserto”.

3 comentários:

  1. BÊNÇÃOS....MUITAS BÊNÇÃOS.....AMÉM!!!

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  2. Queridas irmãs! Vocês são bênçãos para o povo brasileiro!Orações,orações e orações.

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  3. Abençoadas irmãs! Rezem por nós pecadores! Meu Senhor e meu Deus!

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